Orquestra dedica concerto ao maestro Mauro Cerdeira
O terceiro concerto da temporada 2010, da Orquestra Sinfônica de Limeira (Osli), será dedicado ao maestro Mauro Gonçalves Cerdeira. Responsável pela formação de vários músicos da cidade e pelo desenvolvimento da Corporação Musical "Henrique Marques", seu "Mauro", como era conhecido, morreu aos 77 anos na manhã do último sábado, vítima de um ataque cardíaco. A apresentação em homenagem à memória do maestro ocorre hoje, às 20h30, no Teatro Vitória.
De acordo com o regente da orquestra, Rodrigo Müller, o concerto já estava programado, mas teve o título alterado em virtude da morte de Cerdeira. No entanto, o cronograma de apresentação continuará o mesmo, porém, dedicado à memória do ex-maestro.
"Apesar de conhecê-lo a pouco tempo, aprendi a admirá-lo pela seu forte apoio ao nosso trabalho e pela assiduidade nos concertos. Além disso, alguns músicos do grupo também foram alunos dele", argumenta Müller.
Ele cita ainda que o nome de seu "Mauro" sempre estará ligado à história da música em Limeira, principalmente pela sua dedicação a arte de professor de música. "Essa homenagem não é mais que nossa obrigação de poder agradecer pelo seu trabalho em prol da cultura da cidade", fala.
PROGRAMA
O concerto da orquestra de hoje contará também com a presença do trompista André Bueno. Formado em trompa pelo Conservatório de Tatuí e membro atual da Banda Sinfônica do Estado, ele executará o concerto nº 1 para trompa, do compositor Richard Strauss. "É um dos mais importantes para esse instrumento", acrescenta Müller.
Além do solo para trompa, o repertório inclui peças do compositor Beethoven, como a "Abertura Coriolanus" e o "Adágio", de S. Barber, cujo autor completa 100 anos de nascimento em 2010. Os ingressos já estão à venda e podem ser adquiridos na bilheteria do Vitória ao preço de R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia-entrada).
TOM JOBIM
Ainda no ritmo de apresentações, a orquestra apresenta nos dias 21 e 22 deste mês o concerto "No tom do tom", sucesso de público na temporada do ano passado. "Trata-se das melhores músicas do conhecido compositor brasileiro Tom Jobim", lembra o maestro.
Felipe Furlanetti
Assessoria de Imprensa
Orquestra Sinfônica de Limeira
ARTIGO
Ele amava a música, mas sua vida daria um filme
Confesso que esperava ver homenagens naquela fria tarde de domingo, 9 de maio. Porém, não posso esconder minha emoção ao escrever sobre aquilo que vi, ouvi e senti quando da despedida ao maestro Mauro Cerdeira. Sua morte, aos 76 anos, poderia significar o final de um ciclo, mas me parece ser o início de uma nova etapa na cultura musical da cidade.
Isso só seria possível em razão do legado deixado por Mauro Cerdeira. Afinal de contas, bastariam poucos minutos de conversa com os amigos para perceber que estávamos diante de uma figura incomum.
A paixão pela música o levou à Rádio Tupi. Estamos falando da época de ouro do rádio, em que as emissoras tinham seu casting. Na Tupi, era responsável pela cópia das partituras. Algo inimaginável nos dias atuais, de massificação da produção cultural.
Porém, seria em Limeira que sua trajetória ganharia contornos de um daqueles personagens marcantes de filmes. Durante 50 anos, foi maestro da Corporação Musical Henrique Marques, fundada em 1860 e a quarta banda marcial mais antiga do Brasil.
Histórica banda, histórico regente. Mauro Cerdeira foi o quarto maestro da Henrique Marques em quase 150 anos de vida. Recentemente, por conta de uma doença, passou a batuta para Fernando Barreto. Não sem antes contar ao jornalista (e músico) Felipe Furlanetti que, “se um dia Deus me perguntar o que eu fiz com o dom que Ele me deu, vou dizer que aproveitei nota por nota".
A música estava em sua vida particular. Casou-se com dona Aparecida, ela que também nutria uma paixão pela música – atuou como cantora de rádio. Os quatro filhos são músicos. Um deles, Jorge, regeu a banda na Academia da Força Aérea, em Pirassununga. Maurinho, por sua vez, segue os passos do pai nas retretas da “Henrique Marques”.
Há ainda uma lista infindável de músicos que passaram pela formação rígida de “seo” Mauro. Eles sabiam que, em cada aula, diante deles, estava uma pessoa diferenciada, que precisou reservar um cômodo de sua residência para guardar os prêmios conquistados durante a carreira. Sabiam também que Mauro era um exemplo de que apenas o dom não é garantia de um músico de qualidade, mas que a persistência é tão importante quanto a teoria.
Lá estavam eles, naquela fria tarde de domingo, para homenagear Mauro Cerdeira. “Hoje não vou conseguir tocar”, lamenta-se Maurinho, diante dos colegas de banda. Jorge não resiste à lembrança presente. Após a execução de “My way”, eternizada por Frank Sinatra, Jorge vai a Fernando Barreto e aos músicos para agradecer pela homenagem.
ouco antes do último adeus, o prefeito Silvio Félix diz que homenagens oficiais representam o mínimo que a cidade pode fazer pelo maestro. “A preservação da cultura é o compromisso que assumimos diante dele”, completa o prefeito.
Sinal de que a retreta dominical em Limeira tem que continuar.
Adalberto Mansur
Jornalista e Secretário da Cultura de Limeira